O pai voou até o chão e com o bico o
devolveu ao ninho. Começou tudo de novo. Tomou a comida e se afastou. Com as
asas e alguns barulhos, provocou seu filhote a voar atrás do alimento.
Concentrado, o filhote reunia coragem e
força para tentar voar. Batia as asas com enorme esforço, porque seu corpo
imaturo ainda não desenvolvera os músculos necessários para executar aqueles
movimentos, muito menos para aguentar o peso de seu corpo.
Com menos de dois segundos no ar, o
filhote mais uma vez despencou e caiu no chão. Apenas depois da terceira vez
que vi a cena se repetir entendi que se tratava de uma aula. O pai estava
ensinado seu filhote a voar.
O começo de tarde me convidou para
assistir o que seria uma lição não apenas para o filhote. Foi o barulho de seu
corpo frágil batendo no chão que me chamou atenção. O barulho não era dolorido
nem angustiante. Era o sedutor som da vida que me alertava.
A confiança do pai era inabalável. Tinha
certeza que seu filhote podia voar. Como se soubesse ler latências investiu sem
cessar. Demonstrou enorme interesse pelo voo de sua cria e apostou nele apesar
das quedas. Elas não eram suficientes para fazê-lo desistir, e, na verdade,
pareciam o estimular ainda mais.
É como se o pai soubesse que cair era
parte do processo; que nenhum pássaro aprende a voar sem dor e machucados.
O filhote estava determinado. Sonhava
com o momento em que suas asas o sustentariam firme no céu. O olhar de seu pai
o convencia que a diferença entre o que era e o que poderia vir a ser dependia
apenas de correr atrás de uma versão melhorada de si, que soubesse aproveitar melhor
aquelas asas.
Cheio de coragem e ousadia, o filhote
não temia abandonar a proteção ninho. Estava certo de que o futuro
lhe reservava sucesso, como se tivesse nascido para voar.
Então, quando o crepúsculo avermelhou o
céu, finalmente vi o passarinho aprendiz voar e alcançar sua comida. Seu pai o
abraçou e beijou orgulhoso, enquanto o filhote passava de menino para homem. E
eu, que me achava homem, chorei como filhote.
Lucas Lujan