terça-feira, 24 de junho de 2014

Ninguém nasce sabendo voar



O pai voou até o chão e com o bico o devolveu ao ninho. Começou tudo de novo. Tomou a comida e se afastou. Com as asas e alguns barulhos, provocou seu filhote a voar atrás do alimento.

Concentrado, o filhote reunia coragem e força para tentar voar. Batia as asas com enorme esforço, porque seu corpo imaturo ainda não desenvolvera os músculos necessários para executar aqueles movimentos, muito menos para aguentar o peso de seu corpo. 

Com menos de dois segundos no ar, o filhote mais uma vez despencou e caiu no chão. Apenas depois da terceira vez que vi a cena se repetir entendi que se tratava de uma aula. O pai estava ensinado seu filhote a voar.

O começo de tarde me convidou para assistir o que seria uma lição não apenas para o filhote. Foi o barulho de seu corpo frágil batendo no chão que me chamou atenção. O barulho não era dolorido nem angustiante. Era o sedutor som da vida que me alertava.

A confiança do pai era inabalável. Tinha certeza que seu filhote podia voar. Como se soubesse ler latências investiu sem cessar. Demonstrou enorme interesse pelo voo de sua cria e apostou nele apesar das quedas. Elas não eram suficientes para fazê-lo desistir, e, na verdade, pareciam o estimular ainda mais.

É como se o pai soubesse que cair era parte do processo; que nenhum pássaro aprende a voar sem dor e machucados.

O filhote estava determinado. Sonhava com o momento em que suas asas o sustentariam firme no céu. O olhar de seu pai o convencia que a diferença entre o que era e o que poderia vir a ser dependia apenas de correr atrás de uma versão melhorada de si, que soubesse aproveitar melhor aquelas asas.

Cheio de coragem e ousadia, o filhote não temia abandonar a proteção ninho. Estava  certo de que o futuro lhe reservava sucesso, como se tivesse nascido para voar.

Então, quando o crepúsculo avermelhou o céu, finalmente vi o passarinho aprendiz voar e alcançar sua comida. Seu pai o abraçou e beijou orgulhoso, enquanto o filhote passava de menino para homem. E eu, que me achava homem, chorei como filhote.

Pássaros e homens têm destinos comuns. Não fomos feitos para gaiolas, mas não nascemos sabendo voar. Precisamos de alguém que nos incentive a bater asas. E apesar das cicatrizes e lembranças do chão duro que caímos tantas vezes, nada nos faz mais feliz que rasgar o céu com liberdade.

Lucas Lujan