Reunir alegria suficiente nos dias bons para enfrentar
a tristeza dos dias ruins. Esse movimento mantém a esperança aquecendo durante
o inverno. Momentos de contentamento aparecem e deles é preciso se tornar aprendiz.
Ser feliz tem mais a ver com o jeito que se vive uma circunstância do que com a
circunstância em si.
Era um almoço. Na mesa amigos, piadas, risadas e,
claro, comida. Ingredientes perfeitos para o bolo das boas lembranças. Colocaram-nos
na batedeira e depois para assar. Cheiro de sorriso etéreo no forno.
“- Isso não é picanha”, exclamou um de nós. E
continuou: “- Pode até ter o nome da picanha, mas o sabor é de coxão mole”.
Fiquei pensando que as palavras podem ser traiçoeiras ao tentar definir algo;
ao tentar transformar o sabor pelo rótulo. Picanha é picanha, coxão mole é
coxão mole. Chamar o coxão mole de picanha não o deixará mais gostoso.
No campo das definições, o sabor desempenha um papel
melhor que as palavras. Em um mundo regido por sentidos, as sensações promovem
uma melhor experiência de conhecimento. Pode-se colocar um sorvete Kibon dentro
da embalagem de um Häagen-Dazs, mas ele ainda será Kibon.
Assim, não adianta chamar de bom o que tem gosto
ruim. Nem chamar de salgado o que tem gosto doce. De nada vale tentar
desvalorizar alguém que tem valor com palavras de ódio. Tampouco engrandecer quem
é pequeno usando frases de efeito. As palavras desaparecerão quando o paladar
provar seu gosto.
É
assim, também, a respeito de Deus. Por se tratar de uma palavra, é possível
usá-la para qualquer coisa. Enquanto palavra, “Deus” pode dar nome a todo tipo
de carne. Contudo, coxão mole nunca será picanha porque seu sabor é outro. Se
for duro, seco e difícil de mastigar, não pode ser Deus de fato.
As religiões se parecem com churrascarias.
Algumas vendem coxão mole como se fosse picanha; outras brigam para descobrir
quem sabe preparar a melhor picanha. Mas no fundo, no fundo, não se trata da
picanha. Trata-se de quem vai vender mais carne.
O almoço acabou e voltamos para o trabalho. Tive
a sensação de ter me encontrado com Deus. Não com a palavra, mas com o sabor.
Não porque estava numa churrascaria, mas por causa da mesa em que me sentei.
Não são as palavras que melhor revelam a Deus. Palavras podem enganar. Discursos podem ser bonitos mas esconder coisas feias. A melhor revelação está no que sentimos, nas sensações que o gosto de Deus provocam na alma. Se for macio e saboroso é Deus, mesmo que O estejam chamando por outro nome.
Não são as palavras que melhor revelam a Deus. Palavras podem enganar. Discursos podem ser bonitos mas esconder coisas feias. A melhor revelação está no que sentimos, nas sensações que o gosto de Deus provocam na alma. Se for macio e saboroso é Deus, mesmo que O estejam chamando por outro nome.
Lucas Lujan
Gosto muito da sua forma livre de escrever sobre Deus e seus atributos, soa tão coisa de avo querendo explicar de maneira fácil o que é difícil, tem jeito de infância, de inocência, de coisas do interior e que não se valoriza mais. Obrigado, e abraço.
ResponderExcluirParabéns meu amigo simplesmente perfeito, ao ler seu texto me recordei deste almoço entre verdadeiros amigos e claro com a oportunidade de expandir um pouco mais os meus conhecimentos e aprender um pouco mais sobre a maneira que muitas vezes encaramos a vida.
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