quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O que não nos mata, nos colore



Por força da natureza, resistir e sobreviver são palavras de ordem. É cientificamente comprovado. Pesquisadores do mundo inteiro constataram o fato observando desengonçados que continuam a dançar, desafinados que seguem a cantar e corações partidos que insistem em amar.

Não existem humilhações suficientes para sufocar a vida que pulsa. Quando algo ferve nas veias o corpo todo esquenta, não importa a intensidade do frio.

Enquanto folheava as obras completas de Manoel de Barros, um carapanã pousou entre as páginas no exato momento em que fechei o livro. Reabri rapidamente e ele saiu voando, cheio de cores. Pensei tê-lo esmagado, mas estava numa montanha que cura os machucados.

Aconteceu num dia ensolarado. Era uma montanha alta, onde moravam duas borboletas. Elas deixavam um rastro de cores por onde voavam, no formato dos desenhos de suas asas.

Tratava-se de uma montanha encantada. Nela eram curados todos os que foram esmagados por alguma pressão letal. Tornavam-se coloridos e passavam a pintar o ar. Assim aconteceu com aquelas borboletas, que me convidaram para um café e me contaram sobre seus voos.

O caso é que se apaixonaram, ela e ela. Duas meninas. Passaram a voar juntas.

Vieram, contudo, de um lugar bárbaro e violento.  Uma terra regida pela crença de que só há um jeito de voar – que não é o delas. Lá, as pessoas dizem que não é natural lagartas virarem borboletas desse tipo. Revoltadas, submeteram-nas a todo tipo de humilhação. Pisaram com força em suas asas, esmagando-as, para que nunca mais voltassem a voar.

Todo esse ódio é movido por obediência à Borboleta Amor, uma espécie de rei que dá as regras por aquelas bandas. Irônico alguém carregar em seu nome o pressuposto de amar, mas inviabilizar relações amorosas.  

Feridas, as duas foram banidas. Mas por força da natureza, resistiram e sobreviveram. Afinal, aquilo que as aquecia continuava pulsando em suas veias. Mesmo com corações partidos, insistiram em amar. Voaram para a montanha, atraídas pela fome de viver onde pudessem voar como quisessem.

Resta o mistério de saber se o lugar era mágico mesmo antes de chegarem ou se foi o amor que carregavam em suas asas que encantou tudo por lá. Seja como for, passaram a colorir com seus movimentos.

A força da vida que pulsa por amor. O que não nos mata, nos colore.



Lucas Lujan

3 comentários:

  1. Fala primo, bom ver voltar a escrever...saudades...abraços.

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  2. Que bonito. Lucas não imagina o quanto me faz bem ler teus escritos. Um abraço

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  3. Amo seu trabalho. vc eh shooooowwww !!!! Sucesso! Bjusssss

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