Uma das frases de efeito que mais desprezo é: “as
coisas são assim mesmo, não vão mudar nunca”. Desprezo antes de tudo porque é
mentira. Ao longo dos milhares de anos da história humana as coisas mudaram
muito e muitas vezes. Segundo porque gera em nós um espírito de acomodação e
passividade.
Romain Rolland disse: “os homens inventaram o destino a fim de lhe atribuir as desordens do
universo, que eles têm por dever governar.”
O fatalismo do “é
assim mesmo”, ou do “se foi assim, é
porque era para ser”, produziu uma juventude calma, anestesiada e,
consequentemente, adormecida. Toda fome por transformações e mudanças – típica
dos jovens – tem sido saciada com consumo, futilidades, dinheiro e propaganda.
Mas bem alertou Santo Agostinho: “pão
pintado não mata a fome.” A atual geração de jovens está matando a fome com
o que não mata a fome, e quando se derem conta do que deixaram passar,
provavelmente se arrependerão pelos anos desperdiçados com bobagens vãs e sem
sentido.
Perdemos a dimensão da construção da história e
produção do futuro. Talvez seja essa a grande doença da atual juventude: a
falta de expectativa do amanhã. Num terrível e burro uso do carpe diem, acabamos por acreditar que a
vida se resume a hoje. Idiotice monumental de uma geração sem perspectiva.
Precisamos, de uma vez por todas, entender que nem
nós, nem a história, nascemos prontos. Estamos sendo, e por ser feitos. Paulo
Freire:
“O mundo não é.
O mundo está sendo. Meu papel no mundo não é só o de quem constata o que
ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito das ocorrências. Não sou
apenas objeto da história, mas seu sujeito igualmente. No mundo da história, da
cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar.”
Quem foi que roubou de nós essa dimensão da vida?
Quando perceberemos o poder que temos como sujeitos da história?
Gilbert Cesbron fez a pergunta que quero colocar
diante de você que está lendo esse texto: “e
se fosse isso perder a vida: fazermos a nós mesmos as perguntas essenciais
tarde demais?”
Escrevo como um apelo para que você não demore para
se fazer as perguntas fundamentais.
Não aceite pão pintado. Só pode viver saciado quem se
alimenta de pão do trigo. Só pode encontrar sentido para viver quem se entrega
àquilo que acredita; àquilo que faz pulsar o coração. Todo o resto é inútil na
tarefa de plenificar a existência.
Sim, sou idealista. Solidariedade, afeto, respeito,
engajamento e utopia não são coisas de antigamente, mas de futuramente – como
ensina Cortella.
Precisamos nos desfazer da ideia de destino imutável.
Precisamos acordar de nossa inércia e inatividade. Precisamos ouvir nosso
coração e atender ao chamado da juventude que tem fome pela mudança. Se não
produzirmos um futuro para nós e para nossos filhos, ninguém os fará por nós.
Levar isso a sério é nos levar a sério.
É preciso manter a esperança. Só ela produz o futuro
ao mesmo tempo que aniquila a dureza de viver.
Lu Xun, poeta chinês escreveu: “a esperança não é nem realidade nem fantasia, ela é como os caminhos da
terra: sobre a terra não havia caminhos, eles foram feitos pelo grande número
dos que passaram”.
Precisamos caminhar para fazer o caminho. Sem
movimento não há perspectiva. Sem caminho não há para onde ir. Caminhar é uma
aposta de fé. E fé é o nome da coragem animada por Deus.
Quando perguntaram para o Michelangelo como ele havia
conseguido esculpir com tanta perfeição o Davi, ele respondeu: “foi fácil, fiquei olhando para o mármore por
um bom tempo até nele enxergar o Davi. Aí, peguei o martelo e o cinzel e tirei
dele tudo o que não era Davi”.
Precisamos olhar o futuro por um tempo e enxergar
nele a esperança. Depois, pegar o martelo e o cinzel e tirar dele tudo o que
não for esperança.
Lucas Lujan