Há
tempestades que provocam grandes erosões em nossa alma, mesmo em solos que
considerávamos estáveis. Depois de abertas, até uma garoa fina é dilúvio,
tamanho o estrago que faz em nós. Por isso é tão importante empenhar-se em
aterrá-las.
Não
é uma tarefa fácil, mas extremamente importante. Afinal, viver esburacado é um
não viver. A cada novo centímetro na erosão, um pouco de nossa humanidade se
perde. Se não tratada, a erosão pode levar a desertificação.
São
necessárias muitas virtudes para aterrar um buraco aberto em nós. Entre as
principais estão a coragem, a paciência e o amor. Elas devem se unir ao
trabalho de recuperar a nossa integridade, tarefa que não pode acontecer sem muita
disposição.
Por
isso inventaram as tábuas. Elas oferecem um atalho para resolver o problema: ao
invés de aterrar o buraco para continuar a caminhada, a tábua oferece a
alternativa de passar por cima dele, como uma ponte, sem precisar de esforço.
Ela
vence o problema imediato, mas deixa uma lacuna nociva para trás. De tábua em
tábua, nos tornamos um imenso vazio. Uma profunda negação do nosso ser, que
decorre na completa perda da nossa alma.
Existem
muitos lugares oferecendo tábuas. Elas são vendidas sob a promessa de acabar
com o sofrimento; de reatar o casamento; de recuperar o amor dos filhos; de
conquistar o respeito da mãe; de curar amizades feridas; de conseguir um
namorado, ou um emprego; e por aí vai.
Promessas
falsas, porque não tratam o problema, apenas passam por cima dele ignorando-o.
Há um buraco para ser aterrado! Antes disso, ponte nenhuma vai levar a lugar
algum. As tábuas servem apenas como distração – distração de si mesmo.
Faça
o caminho de volta se livrando de todas as tábuas. Com coragem, paciência e amor,
aterre cada buraco com esforço. Nada que vale a pena na vida é fácil.
Lucas
Lujan
Muito lindo!!! Vc é muito sábio!
ResponderExcluirGosto muito dos seus escritos, Lucas... Não sei se porque este se encontrou com alguns buracos em mim, mas foi um texto especial. Dá trabalho não recorrer às tábuas, mas é o único jeito de não acabar afogados em nós mesmos...
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