Deus sempre falou com a humanidade. Falou na
história, por meio da história. E acredito que Ele ainda fala.
Eu o ouço. Não se espante, não fiquei louco. O que
aconteceu é que passei a ouvir com mais atenção. Treinei meus ouvidos. Ajustei
minha interpretação. Procurei o caminho da sensibilidade e do amor.
O ouço na risada do bebê que brinca com a comida;
na gritaria das crianças que correm no parque; às vezes sua voz tem tom
feminino, de mãe aconselhando filho, outras, tom masculino, de pai fazendo
piada pra ver a filha sorrir.
O escuto no lamento diante do acidente; no silêncio
desesperado do marido que perde a esposa prematuramente; no grito agudo da
mulher que é abusada; no choro de fome das crianças do sertão; no sussurro
envergonhado de quem é excluído; nas palavras desamparadas de quem não tem onde
dormir ou o que vestir; muitas vezes sua voz é rouca por causa de sua garganta sedenta.
Ouço Deus nas palavras das hospitaleiras que recebem
pessoas em casa, servem comida à vontade e cedem a cama; ouço Deus pela voz do
professor que luta para educar; nos lábios de quem reage contra a injustiça; nas
palavras apressadas do médico para que a vida não se vá; sua voz é nítida e
forte saída da boca do bombeiro que orienta buscas no morro soterrado.
Ouço sua angustia diante das absurdas injustiças
sociais, de toda opressão econômica e política; ouço seu protesto na voz de
quem se sente desrespeitado em campanhas eleitorais; sua voz é fraca nos lábios
de quem foi humilhado, mas forte quando emitida por quem quer dignidade.
Já ouvi sua voz serena conceder paz e perdão ao
errante; já escutei suas palavras misericordiosas ditas ao culpado; ouço-o nas
palavras de quem não perde a esperança diante do caos; na confiança de quem
acredita no amor; no trincar de dentes do menino soldado que teve sua infância
roubada, mas que não desiste da vida.
Sua voz é afinada no canto da faxineira que levanta
de madrugada para sustentar os filhos; é empoeirada no pedreiro que não almoça
para poder jantar; é molhada na boca da lavadeira que alimenta o pai doente; é
amarga na boca de quem tem amor ausente.
Voz de justiça nos lábios do juiz íntegro, do
advogado responsável; voz de igualdade social emitida pelo banqueiro dos
pobres; voz profética na boca do padre que denuncia a indiferença, na boca o
pastor que aponta a corrupção.
Ouço-o na beleza das palavras do poeta; na música
do compositor apaixonado; nas mãos de instrumentistas habilidosos; nas páginas
dos escritores vislumbrados com o mundo; na arte de quem reverencia a vida
humana.
Sua voz nunca tem tom de poder, de autoritarismo,
de imposição. Ao contrário, o ouço na fraqueza do nazareno crucificado.
Deus se revela pela Palavra. Palavra encarnada,
jogada na vida, mundana. Por isso é possível ouvi-lo.
A questão, então, não é se Deus fala; é quem está
disposto a ouvi-lo.
Lucas Lujan
Sim, é possível também ouvi-lo em suas palavras. A graça manifestada em poesia me alcançou nesta leitura. Obrigado querido!
ResponderExcluirOi, Gleidson. Obrigado pela leitura e pela visita, amigo. Fico feliz em ter te alcançado. Um abraço, amigo.
ResponderExcluirLindo texto Lucas!!! Obrigado pela narrativa e caminhos. Abx
ResponderExcluirLucas, você escreve lindamente! Abraços.
ResponderExcluirObrigado, Rosana.
ExcluirObrigado lucas por proporcionar refrigério com a tua escrita.
ResponderExcluirTomei a liberdade de postar seu poema,que Deus possa te dar muitas inspirações.
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