terça-feira, 7 de maio de 2013

A beleza



Nos acostumamos rápido. De tanto vermos e sentirmos as mesmas coisas, de contemplarmos quase sempre a mesma paisagem e o mesmo horizonte, acabamos nos desencantando. Nada de extraordinário nos chama atenção. Passamos a andar com a cabeça baixa, com os olhos presos ao chão.

É quando tudo vira mais do mesmo. Rasga-se o dossel que envolvia a atmosfera de nosso universo particular.

Sorte daqueles que, em meio a rotina, reencontram-se com a beleza. Nada mais pode salvar uma vida, porque o que é a beleza senão a sombra de Deus no mundo?

Já aconteceu comigo. Eu andava num campo de cabeça baixa, sem prestar atenção no que estava ao meu redor. Desatento. Acostumado. Tudo era igual mesmo, portanto olhar para o meus pés fazia mais sentido. O esforço de manter a cabeça erguida era inútil.

De repente alguma coisa forte, muito forte, me fez olhar para frente e fitar o horizonte. Olhei e demorei para entender a imagem nova que se desvelava para mim, fazia tempo que não a contemplava. Ela estava lá, a beleza. E tudo era feito dela: o chão, o sol, o tempo e o horizonte. O ar, e a cada respiração o mundo ficava mais bonito.

Aquela força incrivelmente bonita me encheu de coragem para caminhar, para ir buscar o horizonte. A atmosfera sacralizou-se novamente. O encanto repousou sobre mim.

O mundo que tornara-se ordinário voltou a ser extraordinário. Tudo foi reencantado, o novo e o antigo, porque não há limites para a beleza. Ela perpassa todas as dimensões de todos os tempos.

A beleza é uma gratuidade do acaso. É preciso sensibilidade para percebe-la, porque surge em lugares inesperados, quando menos esperamos.

Não existe força maior do que a que emana dela. Torna a cena linda demais para que a vida seja qualquer coisa. E ela por si só basta como explicação. Valeu a pena porque foi uma bela experiência. É um empoderamento estético, um valor autônomo.

Quase sempre procuramos respostas na razão. É a ela que dirigimos nossas perguntas. Acontece que muitas vezes não se trata de pensar, mas de sentir. Não se trata da razão, mas da beleza. Ela coloca na experiência o valor mais alto, sagrado e inegociável.

É sobre isso a nossa existência. Menos sobre pensar a razão de estarmos aqui e mais sobre aproveitar a oportunidade. Por isso é tão importante o amor, porque é a beleza de amar que faz tudo valer a pena. É a experiência estética que emprega sentido à vida.

Lucas Lujan

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