O leite condensado foi inventado para substituir o leite materno. O ketchup já foi considerado remédio. Nas propagandas de cigarros, médicos eram os modelos que incentivavam seu consumo para uma vida saudável.
Nenhuma dessas coisas, contudo, persistiu. Por uma
razão simples: temos a capacidade de repensar.
Nenhuma fazia mais sentido, foram então reformuladas. As coisas que são não
precisam ser para sempre, podem ser refeitas ou simplesmente abandonadas.
Nosso primeiros ancestrais eram nômades. Caçavam e
exploravam tudo o que podiam com seus pedaços de ossos e pedras. Se comunicavam
com pinturas e alguns poucos ruídos estranhos. Daí as necessidades mudaram e
eles repensaram. Precisavam de
habitação fixa.
As circunstâncias os levaram a desenvolver a
agricultura e a fazer fogo. Com o fogo avançaram para a metalurgia e logo
começaram a armazenar alimentos. As comunidades foram crescendo e agora
precisavam fazer trocas com outras comunidades. Daí as necessidades mudaram e
eles repensaram. Precisavam se
comunicar melhor.
As circunstância os levaram a desenvolver palavras e
depois inventar a escrita. Surgem grandes aglomerados humanos, ou cidades. Do
desenvolvimento do raciocínio complexo passaram a fazer filosofia. Nascem a
política e a economia. Daí as necessidades mudaram e eles repensaram. Precisavam de autonomia.
As circunstâncias os levaram à razão. Emancipação do
ser humano. Progresso científico e tecnológico. A terra é redonda e não é o
centro do universo. Isaac Newton. O Papa não é Deus - que afinal pode nem
existir. Daí as necessidades mudaram e eles repensaram.
Precisavam abandonar definitivamente o passado e mergulhar na modernidade.
As circunstâncias os levaram ao fonógrafo, lâmpada,
fibra sintética, turbinas de vapor, indústria, câmera e papel fotográficos, motor
diesel, carro, raio x, cinema, telégrafo sem fio, rádio e avião. Albert
Einstein. Televisão. Internet e celulares. Internet em celulares.
Nada disso aconteceu sem muito conflito. Daí a
necessidade de repensar a
maneira como nos desenvolvemos e progredimos – que muitas vezes representou um
retrocesso de fato. É preciso agora de um novo cimento social, que está sendo
chamado de desenvolvimento sustentável. Uma revisão dos padrões de extração,
degradação, modo de produção, economia de produtos, consumo e urbanização.
As necessidades vão mudar e precisaremos repensar, sempre. A história está
andando, por isso as necessidades mudam e é preciso revisão. As circunstâncias
nos levam para caminhos novos, invariavelmente. É preciso ouvir o tempo e a ele
dar uma resposta.
Difícil, porém, é explicar isso para os evangélicos
brasileiros. A história está evidentemente em trânsito, mas eles estacionaram
lá no início do século XX e de lá não querem arredar o pé. Afinal, estão sob os
cincos ponto dos fundamentos da fé. O que decorre dessa teimosia é um anacronismo,
que por sua vez, decorre numa irrelevância – no melhor dos casos -, ou simplesmente
em puro deboche por parte dos setores da sociedade.
Assisti um vídeo de humor, com personagens fictícios,
em que a Dilma Rousseff diz para o Marco Feliciano: “Não quero que peça
demissão da comissão de direitos humanos e minorias, quero que peça demissão do
século XXI”. Às vezes a crítica séria vem em forma de deboche, mas não perde
seu caráter de denúncia flagrante.
Medidas as proporções para efeito comparativo, aqueles
que se identificam com os valores morais, éticos, sócio-políticos e teológicos
do Marco Feliciano ainda dão leite condensado para seus recém-nascidos, usam
ketchup para tratar doenças e consomem cigarros para se manterem saudáveis. Se
comunicam com ruídos estranhos e caçam com pedaços de ossos e pedras – às vezes
literalmente, porque gostam de literalidade.
Lucas Lujan
Adorei seu texto. Tomei a liberdade e publiquei para o grupo no Face. Já adiciono seu blog na lista de blogs que leio do meu blog.
ResponderExcluirUm grande abraço Lucas,
De Marcio Uno
Fala, mano. Claro, pode publicar a vontade. Coloquei seu blog aqui também. Abraço!
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