segunda-feira, 10 de março de 2014

Não tenho medo do inferno


Quando aceitei Jesus disseram que estava salvo e, portanto, não iria mais para o inferno. Me ensinaram que o inferno é o destino natural de todos os seres humanos, pois estão corrompidos pelo pecado. Também me ensinaram que se salvam apenas aqueles que aceitam a Jesus Cristo como senhor e salvador - que era o meu caso. Meu sentimento imediato foi um misto de alegria e dor.

Isso aconteceu quando eu tinha aproximadamente doze anos, apesar de ter nascido e sido criado na igreja. Fiquei confuso. Meu coração estava aquecido, mas minhas pernas congeladas. Me senti alegre por ter sido salvo do sofrimento eterno, mas ao mesmo tempo uma profunda dor se instalou em mim porque boa parte das pessoas que eu amava estava destinada a ele. Chorei pelos meus amigos da escola, por meus tios e tias, por meus avós. Orei com todas as forças para Deus os livrar.

Sofri. No desespero de salvá-los me tornei um chato, fiz da Bíblia e de Deus chatos. Não aguentavam mais me ouvir falar sobre céu e inferno. Usei a tática comum que aprendi na igreja: colocar medo. Li pra eles o livro do Apocalipse, torcendo pra que aceitassem Jesus a fim de se livrarem de todos aqueles castigos terríveis.

Não funcionou. Ficaram inconformados com um Deus que se dizia amor, mas era tão cruel com as pessoas. Desconsolado, temi por seus destinos. Passei a olhá-los como pecadores indignos do amor de Deus. Fiz das pessoas campos missionários.

Com o tempo, minha compreensão adquiriu novos contornos. Aquela inconformidade dos meus amigos foi me dominando. Como um Deus que ama pode ser tão cruel? Quando ousei fazer essa pergunta - colocando em xeque os ensinamentos que havia recebido - muita coisa mudou. Minha espiritualidade se reformulou e passei a compreender melhor o valor do amor para a fé cristã.

Entendi que o Amor era Deus.

Descobri que Deus não estava irado, babando por vingança. Descobri que Ele não tinha razão para enviar pessoas ao inferno, porque não castiga ninguém. Descobri que Ele era Amor, e no amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor. 

E tentei salvar tanta gente com base no medo... Nada mais distante de Deus.

Se ir para o céu significa ficar eternamente longe e separado das pessoas que amo, ele será um inferno. Se ir para o inferno significa ficar eternamente perto e ao lado delas, ele será meu paraíso. Mais vale uma eternidade de dor ao lado de quem amo que uma eternidade de glória longe deles.

Hoje, depois de tantas transformações que sofri em minha fé, me libertei do medo do inferno e do medo das pessoas que amo sofrerem eternamente nele. Não temo nenhum castigo divino. Por Deus ser amor sei que cuidará bem de todos os que amo, porque Ele também os ama.

Deus simplesmente ama demais meus afetos para abandoná-los no inferno, os castigando perpetuamente por seus pecados e suportando sua ausência por toda a eternidade.  

Deus é amor e amor é libertação de todo medo. Se não liberta, não é Deus.

Lucas Lujan

14 comentários:

  1. Não creio no inferno como um lugar de tormento eterno, mas se há uma condição pós morte, que separe a alma do homem de Deus eternamente, não é escolha de Deus, mas do homem que rejeita a Justiça de Deus em Cristo.

    O Amor havia antes da fundação do mundo, a Graça é atemporal e É mesmo antes que houvessem homem e pecado. Se a Porta está aberta por causa do amor e o homem escolhe não entrar, pelo apego demasiado ao ego, como Deus pode ser demonizado, se Ele mesmo abriu a Porta?

    Assim, sem acepção o convite é para todos, mas não há imposição. Ninguém será obrigado a viver com um Deus que rejeitou. Isto é justiça.

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    1. Oi, Janete. Obrigado por vir até aqui, comentar e repartir seu ponto de vista.

      Ninguém será obrigado a viver com um Deus que rejeitou, penso como você. Isso seria uma prisão. Mas também ninguém pode ser obrigado a viver com o Diabo porque rejeitou a Deus, seria uma prisão igualmente.

      O que não faz sentido é pensar que só existem duas opções para o pós-morte. Qualquer uma seria injustiça para quem não quer nenhuma delas.

      Ir para o céu não pode ser imposição, mas ir automaticamente para o inferno por não querer o céu, também não.

      Um abraço!

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  2. me vi em seu texto Lucas...
    eu tambem fui assim, mas gracas a Deus conheci a Betesda e hoje sou outra pessoa muito mais amavel e compreensiva!

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    1. Oi, Edna!

      Se o amor não nos transformar, nada mais nos transformará. Que bom que você é outra pessoa, melhor do que foi.

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  3. Como sempre... vc arrasa nas palavras! Belíssimo texto... bjs

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Grande Lucas, legal ler suas palavras.

    Como sabemos, por uma questão de manutenção política, tanto o inferno como o céu foram, no imaginário cristão medieval, transportados para espaços geográficos metafísicos, por ser mais fácil à igreja que tencionava ser mediadora das vidas das pessoas.

    Uma vez transportados para tais espaços, a igreja se colocava como mediadora do pós-morte, regulando os castigos e as recompensas do além, em vida.

    Podemos confiar, lendo os evangelhos, que Jesus em todas as ocasiões falava de céu e inferno como condições existenciais, realidades presentes no aqui e agora.

    Portanto, concordo com você, e também não tenho medo do inferno, pois onde existe o medo o amor aí não está.

    Gostei da reflexão. Saudades mano. Abraços.

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    1. Alex, obrigado pela visita, mano.

      Seu comentário foi tão rico que li umas dez vezes...rs... Obrigado por repartir e deixar uma contribuição aqui.

      Saudades também, amigo.

      Abraço

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  6. Grande Lucas!
    Mano, peguei pra ler esse texto seu agora, pois vi na sua linha do tempo do Face.
    Fiquei surpreendido! Eu tenho esse mesmo pensamento, já refleti varias vezes, e até pensei em escrever algo sobre o assunto, para eu guardar mesmo.
    Enfim, se eu for escrever tudo o que penso sobre o assunto aqui vou acabar falando besteira perto de tanta sabedoria! rs

    Você é o cara, mano!

    Abraço!

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    1. Fala, Gui!

      Legal que gostou do texto. Fico feliz :)

      Vale a pena ler o comentário do Alex Carrari também, grande contribuição.

      Abração, mano!

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  7. Ola,
    Eu venho a um tempo num processo de formar minha espiritualidade, tive contato com a religião evangelica ( com a qual nao me indentifico devido a divergicia de diversos pensamentos) mesmo assim desenvolvi esse medo extremo do inferno. Fiquei com uma duvida voce acredita que nao ha um inferno?

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  8. Lucas, amei seu texto... todos nós somos pecadores... acho muita prepotencia a pessoa se batizar , frequentar a igreja constantemente e achar que está pronta para o Céu. Todos somos pecadores, só a Graça de Deus nos basta...seu texzto é de uma qualidade literária magnifica porque traduz exatamente o que muitos temem mas uma frase vou guardar para sempre: Onde ha o medo, não ha Deus.. Obrigada por aliviar tantos corações... Deus é amor... um pai não condena eternamente seu filho, ele pune , por que é preciso mas liberta também!!!! Deus abençoe grandemente sua vida.

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  9. Eu carreguei o medo da Religião durante 9 anos hoje faz quase um ano que não tenho mais medo do inferno até hoje eu acho estranho isso depois que conheçi verdadeiramente o amor de Deus o medo foi embora e a confiança veio sabendo que o amor de Deus pelos seus filhos é infinitamente maior que o amor de uma mãe por um filho

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