quinta-feira, 20 de março de 2014

Só por amanhã


Acordou, mas sua alma continuou dormindo. Seus olhos estavam abertos, mas sem nenhum brilho. A alma adormecida apaga o semblante, reparou. Seu corpo levantou da cama, mas ele continuou deitado. Olhou pra trás e despediu-se de si.

Na cama a culpa, fracasso, vergonha, saudade e dor. Entendeu sua alma, era peso demais para despertar. Melhor dormir. No corpo levou apenas a obrigação de trabalhar. Pegou um trem lotado, mas sentiu solidão. É possível senti-la mesmo quando estamos rodeados de gente. Afinal solidão não é a falta de pessoas, é a falta de quem se ama.

Nenhuma planta crescia. Nenhuma flor desabrochava. Viu pela primeira vez um arco-íris preto e branco. Pela primeira vez ouviu músicas de uma só nota. Cheiro de cinzas, gosto de pó. Sentiu-se inadequado para tudo.

Descendo pela rua do escritório passou por uma senhora simpática que distribuía jornais. Perguntou: “- Quer um, filho?”, ele respondeu negativamente acenando com a cabeça. Ela replicou, depois de olhar dentro de seus olhos pálidos: “- Tudo bem, as notícias de amanhã serão melhores”. E sorriu para ele, que sentiu um calor no peito.

Desejou que a senhora estivesse certa. E como se entendesse a sua sede, ela completou cuidadosamente: “– Tem dia que é noite, mas nenhuma noite é tão longa que não encontre o dia novamente. Quando amanhecer, siga em frente. Caminhe, porque quem não caminha não faz trilha e sem uma não há para onde ir, nem para onde voltar. Mas saiba que tão importante quanto seguir em frente é cuidar da qualidade dos próximos passos. Gaste suas energias na construção de quem quer ser”.

Saiu transformado daquele encontro. Percebeu que no dia em que a alegria não é possível, resta a esperança pela próxima manhã. Descobriu que felicidade é engravidar do futuro e gestá-lo com esperança.

Fim do expediente. Todo fim de tarde anuncia que um novo dia está nascendo. É quase sempre assim: o fim é prelúdio de um novo começo.

Não é possível mudar o caminho que se fez até aqui, mas é possível escolher por qual continuar, concluiu. Deixou de amargurar o passado e sonhou com o amanhã. Soube que mais importante do que ele foi, é o que ele poderia vir a ser.

Chegou em casa e reencontrou-se consigo, desperto. Sua roupa manchada com tinta roxa, azul, vermelha, laranja e amarela. Sorriso de sol. Estava pintando a alvorada.


Lucas Lujan

14 comentários:

  1. Lindas palavras, eu acredito num novo amanhecer! =)

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  2. Lucas,

    Acreditemos em um novo amanhecer, numa nova construção, em um novo ser, na esperança....Obrigado pelas palavras. Vamos nessa rapaz, vamos lá primo!!!

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  3. Lindo texto! Inspirador e renovador... Parabéns, Lucas!! Abraço

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. "Não é possível mudar o caminho que se fez até aqui, mas é possível escolher por qual continuar, concluiu. Deixou de amargurar o passado e sonhou com o amanhã. Soube que mais importante do que ele foi, é o que ele poderia vir a ser."

    Mensagem impactante... Que Deus te abençoe e continue inspirando os teus dias!

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